O lixo que sou

De repente me vi num lugar estranho
gélido, escuro e desconfortável
um feixe de luz ora adentrava por uma passagem que logo era fechada
não sem antes algo ser lançado nesse lugar
primeiro uma bolinha de papel
depois um tufo de cabelos
e um tempo depois uma casca de banana
não demorou muito para perceber em que lugar eu tinha caído:
numa lixeira.
Não sei dizer se a lata de lixo estava num escritório,
numa escola,
numa casa de um morador comum e insignificante
o fato é de que eu não fazia ideia de onde estava,
como isso foi possível
ou como sair dali
logo comecei a escalar por entre os entulhos
na esperança de alcançar a tampa
e quando esta abrir me jogar para fora num mundo de liberdade
liberdade que esqueci de sentir ontem a noite ao me deitar
me vi fracassando e num piscar de olhos vejo meu fim
será que se dariam conta de que sumi?
de que fui dormir noite passada e agora não estou em lugar nenhum?
posso estar no lixo da minha própria casa também, vai saber
não escuto conversa alguma vindo de fora
enfim, muito tempo se passou
anos ou horas
a evolução dos seres humanos
ou um fugaz momento no espaço tempo
a verdade é que já perdi as esperanças há muito tempo
os lixos depositados dentro da minha lixeira
viraram utilidade
um escorregador,
uma cama,
uma mesa de bar.
A solidão faz parte desse reino
e o cheiro ruim não mais me incomoda
aprendi a viver no meu lixo
me acostumei com a escuridão e os intervalos de luz
os pensamentos de como era antes são visitas
mas sabem a hora de ir embora
até que gosto do lixo que eu sou.

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